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Sound Shapes faz boa fusão de jogo de plataforma e criação musical

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AVALIAÇÃO INFO GAMES: 9,1

  • Desenvolvedora: Queasy Games
  • Produtora: Sony
  • Lançamento: 7 de agosto de 2012
  • Plataformas: PS3 e PS Vita
  • Prós: Bom recurso de criação e compartilhamento de níveis; músicas exclusivas do Beck e boa interatividade com elas; fases surreais e referenciais a games antigos
  • Contras: Discrepância entre a dificuldade dos diferentes modos; sistema de notação musical para melodia e acordes podia ser melhor; criação de fases ainda tem bugs
  • Conclusão: Sound Shapes é um experimento promissor cuja experiência pode ser bem divertida ou, no mínimo, curiosa

Ao pensar em jogos musicais, é comum lembrar diversos exemplos em que é necessário decorar canções e os comandos para ficar em alinhamento com elas. Mas e se a construção musical fosse mais livre? Algo como um jogo de plataforma em que cada moeda coletada representa um elemento sonoro a mais para a trilha sonora? É nesse território que Sound Shapes, para PSN e PS Vita, se aventura.

Sem se preocupar em elaborar uma história, Sound Shapes é direto: você controla uma bolinha amarela que rola em cenários psicodélicos e deve coletar círculos e tocar objetos do cenário. E é sobre essa base elementar que entra a singularidade do jogo: cada interação da esfera com os símbolos espalhados pela fase representa um novo elemento musical que se junta à trilha sonora, como uma nota no contrabaixo, uma batida no bumbo ou acordes no piano.

Portanto, os elementos coletados interferem diretamente com o que você está escutando nas fases. Isso torna Sound Shapes uma experiência de criação musical singular. Mas o jogo ainda tem mais a dizer.

Boa química entre ação e música

Sound Shapes não deve ser confundido com um jogo rítmico. Ter musicalidade até pode ajudar a passar telas, mas apenas na mesma medida em que ajuda também a lidar com obstáculos sincronizados em outros jogos de plataforma, não sendo algo ligado especificamente à musicalidade, mas sim ao timing das ações. Neste jogo, é a criação sonora que obedece às ações do jogador e não o contrário.

O jogo da Queasy Games não é como Elektroplankton, para DS, que funcionava como uma espécie de playground sonoro sem enredo ou evolução narrativa, e nem como Rhythm Heaven, que mistura cenários psicodélicos ao aprendizado de linhas rítmicas. A mistura de música e plataforma em Sound Shapes é original e ataca em outro sentido.

Ainda na parte musical, a customização de níveis no jogo se sai bem somente na seção rítmica. Até Mario Paint, lançado há 20 anos, soube utilizar um sistema mais sofisticado de notação musical para melodias e acordes, de forma lúdica e acessível – enquanto a de Sound Shapes é dura e menos atraente, apesar do bom número de timbres disponíveis.

Mas a criação de fases não se resume a isso. O jogo fornece bons tutoriais gráficos e sonoros, que recompensam lições aprendidas com troféus e ensinam bem a mecânica de criação ao jogador. Há no game um bom potencial para criação coletiva e jogos comunitários ao modo do que foi realizado em LittleBigPlanet.

Algumas das fases criadas nesse curto tempo em que o jogo está no ar já contêm mapas mais extensos e um design de fase mais elaborado que os das fases disponibilizadas na campanha normal. Em contrapartida, elas não superam a qualidade musical e gráfica das fases originais, além de sofrer por enquanto com alguns bugs que podem macular um pouco a experiência.

Descompasso entre campanha e Death Mode

O aspecto em que o jogo mais desafina é na dificuldade. Há save points por todo lado e é possível morrer indiscriminadamente na campanha normal – algo que torna o jogo excessivamente fácil de ser zerado, por vezes tornando-o burocrático. Após finalizar o game principal, há a expectativa de um modo mais difícil – e é aí que reside o descompasso.

O chamado Death Mode presente em Sound Shapes concentra toda a dificuldade real do jogo. Nele, o jogador fica preso a uma tela com um loop musical, tendo a obrigação de coletar certo número de pontos em alguns segundos. Além do tempo ser curto, inúmeros obstáculos e perigos inundam a tela, tornando o modo extremamente difícil – e com um levada sonora muitas vezes difícil de aturar. Ainda assim, aos que estiverem em busca de um bom desafio e tiverem persistência, serenidade e sorte para concluir o modo, certamente se sentirão recompensados – não é à toa que cada fase em Death Mode pode render um troféu.

Todavia, por mais que o recurso preencha a lacuna para aqueles que estão em busca de grandes desafios, é impossível negar que a escolha representa completa descaracterização da proposta do jogo, sendo apenas um adicional de luxo (e até preguiçoso) por parte dos criadores – algo que jamais poderia render tantos troféus, por fugir demais da essência do jogo e não recompensar a performance em seu principal aspecto.

Sintonia entre imagem e som em alta

Com cada “álbum” (ou coletivo de fases) desenvolvido por diferentes bandas e artistas plásticos, a mudança ao trocar de mundos em Sound Shapes é drástica, tanto visual quanto sonoramente. Alguns criadores prezaram mais pela construção da fase como um jogo de plataforma, deixando a música como elemento secundário, enquanto outros proporcionam simbiose fina entre os dois elementos.

Foi o caso do compositor indie Beck, que parece ter entendido bem a tônica do jogo. Nas fases que sonorizou, a impressão é de uma canção que é criada conforme o jogador passa cada tela, sendo um processo orgânico, passando a impressão de uma música genuinamente interativa. Certas vezes a letra da música surge em elementos da tela e sugerem literalmente o que acontecerá com eles (como um ponte avisando que se “moverá um pouco” ou “sumirá um pouco”). Tudo isso evidencia o bom potencial de Sound Shapes como plataforma de criação digital para jogos que misturem música e ação.

Outro destaque nas fases são seus gráficos, que podem lembrar a ousadia visual de outros jogos excêntricos como Katamari Damacy e PixelJunk Eden. Além dos mapas serem bem idealizados, seus cenários são abstratos e cheio de coloração extravagante. Por vezes, eles contam com citações a jogos antigos como Space Invaders, Arkanoid e mesmo Pac-Man, ao qual a esfera amarela parece fazer referência. Até a recompensa por coletar mais pontos remete à tônica das primeiras gerações de games, em que a pontuação alta justificava mais a fase do que concluí-la.

Mas qual é o objetivo?

Sendo assim, qual é a grande meta ao se jogar Sound Shapes? Se não é possível morrer de vez e cada símbolo pego representa um elemento sonoro, concluir a fase não é o mais fundamental – embora seja bom como ouvir uma música até o fim. Isso torna o game mais uma experiência sonora interativa que um jogo na acepção comum da palavra. Se a bolinha amarela morresse e a fase recomeçasse do zero, a sensação de uma música contínua ou de um videoclipe seria estragada.

Nesse jogo, morrer faz parte da experiência e não significa que ela deva ser parada e recomeçada do zero. Sound Shapes determina que o show deve continuar.

Quem estiver em busca de ação, provavelmente se decepcionará, pela falta de um bom desafio integrado à campanha principal e de uma história com personagens. Mesmo quem quiser um jogo musical mais linear pode ficar um pouco frustrado. É como um experimento promissor de criação de níveis, compartilhamento comunitário e ousadia na criação gráfica e sonora que Sound Shapes se sobressai – e a experiência pode ser bem divertida ou, no mínimo, curiosa.

Vale ressaltar que no PS Vita existe o benefício da tela sensível a toque em parte do jogo. Mas por mais que ele sirva bem como jogo casual, a partida no PS3 promete ser forte pelo impacto visual e sonoro.


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